Clássico é clássico. O Atletiba é maior ainda
Quarta-feira tem Atletiba. Para quem conhece o clássico, explicar o que isso significa é dispensável. Para quem não conhece, é inútil. Mas segunda-feira é dia de Segundona, dia de texto no inbox da galera, então vamos explicar o que deveria ser ensinado já no processo de alfabetização dos pequenos brasileiros.
Nada importa mais que o Atletiba de quarta-feira.
Vladimir Putin pode, a qualquer momento, ordenar que o Exército russo invada a Ucrânia? Me preocupa quem do exército de Petraglia estará em campo no Couto.
Bolsonaro passará vergonha em Moscou - e nós passaremos raiva por aqui? Quero é saber se o Muralha passará vergonha, pois só falta passar raiva em Atletiba (de novo) por causa dele.
Moro, Lula, Doria, Simone e Ciro articulam apoios para as eleições de outubro? Me importa é a articulação de jogadas entre Régis, Manga, Gamalho e Paixão, a escalação que é quase uma letra do Wando.
A dupla da casa de vidro será mandada para dentro do Big Brother? Me digam é quem irá apitar o Atletiba, já que não haverá árbitro de vidro.
“Não é só futebol!!!”, berra o emocionado nas redes sociais.
É só futebol, sim. E isso é coisa pra caralho. O futebol se basta.
A sociologia de botequim faz muito bem ao jogo, é parte do show. Mas não nos levemos tão a sério assim quando o assunto é futebol. Menos, garotada.
E, emocionado por emocionado, sou muito mais o Robson, amigo do Ramon. “Tibaço! Tibaço!”
Em Atletiba vale até aplaudir o Cruvinel
Lembro nitidamente de cada Atletiba a que assisti no estádio. Couto, Pinheirão, Arena, Vila Olímpica, Vila Capanema.
Dos mais marcantes, como a histórica final de 90. O Maracanazo de toda uma geração coxa-branca. A festa do bi que, sem aviso, virou o horror pastelão que sucedeu o arremesso lateral de Odemílson Minotauro até o gol contra do Berg.
Aos mais esquecíveis. Vi um 3 a 1 para o Coritiba no Brasileiro de 93. Dois times horríveis, chuva, frio e lama. João Carlos Cavalo pôs o Atlético em vantagem. Hélcio (PASSE DE CRUVINEL!), Fernando e Cosme fizeram os gols da virada.
Assisti ao jogo da cabine de som do estádio, com o Nelson Santos, morto ano passado. Ele era locutor oficial do Couto e trabalhava com a minha mãe na Servopa.
A capa inesquecível do editor: vitória do Athletico
Foram outros inúmeros Atletibas a trabalho, no campo ou na redação.
Lembro bem da clássica final de 2004, na Arena. Jogo nos acréscimos, desci da tribuna para a sala de imprensa. Quando cheguei na boca do corredor que levava ao gramado, havia uma falta para o Athletico da entrada da área, naquele gol, quase um pênalti que Dagoberto bateu na barreira e o jogo acabou imediatamente depois.
A tensão do estádio naquele momento é o que, se um dia a tecnologia permitir, eu projetaria da minha mente para uma tela multidimensional se um gringo me perguntasse por que amamos tanto o futebol. (Providencie, Elon Musk)
Como editor, uma das capas que mais gostei de fazer foi a de um Atletiba que o Athletico venceu. Ferreira acabou com o jogo, fez gol inclusive. A foto era um close maravilhoso da comemoração do gol, dele batendo uma das mãos no escudo redondo do Athletico, lábio cerrado na letra F. Foto estourada na capa e o título “Yo soy F…erreira”.
Cheguei à redação na manhã seguinte e, antes de ligar o computador, tomei um pito do Oscar Rocker Neto, grande chefe e figuraça, por colocar com quase todas as letras um “eu sou foda” na capa da Gazeta do Povo. O Atletiba valia a bronca.
Um Atletiba valendo vestir a camisa do rival, outro valendo open bar
Ainda nos tempos de Gazeta, fiz duas apostas com o amigo Guilherme Voitch, atleticano.
Na final de 2008, o título de um custaria ao perdedor vestir a camisa do rival dentro da redação. No dia seguinte, a redação da Carlos Gomes parou para ver o desfile do Guilherme com a camisa trazida pelo Edson Szalbot, o Sapatão, diagramador e coxa-branca. Te devo essa até hoje, Henrique Dias.
2009 foi ano de supermando (uma aberração que estou com preguiça de explicar) e o Atletiba caiu na penúltima rodada do octogonal. O jogo seria na Arena e uma vitória daria o título ao Athletico no ano do centenário do Coxa. Passei a semana instigando o Guilherme a fazer a aposta. Ele se negava, não queria outra foto com a camisa alviverde.
Até que na sexta fiz a proposta irrecusável: te dou o empate (o Coxa não vencia na Arena havia 8 anos) e vale uma noite de open bar em qualquer balada. Aposta casada. Domingo, 4 a 2 Coritiba (o Atlético chegou a empatar em 2 a 2) e open bar assegurado.
E quarta-feira?
Não vejo futebol com o interesse tático de outros tempos, portanto deixo esse tipo de análise para quem está mais empenhado em entender a mecânica dos times. Na dúvida, leiam e ouçam o que o Guilherme de Paula falar que não haverá análise melhor.
Verei o clássico do sofá, a 401 quilômetros do Couto Pereira. Vi também de um sofá paulistano o Atletiba da última rodada do Brasileiro-2011, que o Athletico venceu, caiu e tirou o Coxa da Libertadores.
Foi a caminho de São Paulo, em clima de Mad Max, que ouvi o último Atletiba antes do futebol parar por causa da pandemia, em 2020. Um 4 a 0 para o Coritiba, no Couto, que eu nem acharia ruim se tivesse sido o último jogo de futebol da história da humanidade.
Mentira. A vida não teria a menor graça sem Atletiba. Então, vamos ao jogo!
Antes que eu esqueça…
Notem que usei Atletiba em todas as menções ao clássico por ser a única forma aceitável, fora as jocosas com apelidos do rival. Atle-tiba, Atle-Tiba, ATLEtiba, atleTIBA ou Athletiba só existem na cabeça de quem quer fazer média. Respeitem o clássico.