Neymar não saiu na mão com Donnarumma. Que pena
Se tivesse entrado em uma discussão de vestiário com Donnarumma a ponto de quase sair na mão, Neymar teria mostrado que tem sangue fervente correndo pelas veias.
Neymar e Donnarumma discutiram no vestiário do PSG e precisaram ser separados por companheiros do time antes que saíssem na mão. Esse era o destaque do site do Marca, que logo tomou os portais esportivos do mundo todo.
Vi de soslaio no Twitter e logo formei a imagem mental do pequeno Neymar encarando o gigante Donnarumma (1,75 m x 1,96 m, me conta o Google). “Aí sim, Menino Ney!”, pensei, antes de voltar à labuta.
Neymar e Donnarumma não ficaram a “isso aqui” (visualize o indicador e o polegar tão próximos que mal passa uma agulha) de sair na porrada.
Neymar foi ao Instagram (claro) postar uma mensagem que ele recebeu de Donnarumma pelo WhatsApp (óbvio) para desmentir tudo (lógico) e reclamar de quem fica inventando notícia (evidente). “E surpreendeu um total de zero pessoas”, conclui mentalmente, enquanto almoçava.
Para encurtar o texto, vou comprar pelo valor de face o que Neymar disse. Alguém plantou a informação, o repórter do Marca engoliu e todo mundo reproduziu. Beleza.
Sendo assim, pena que Neymar não discutiu com Donnarumma quase a ponta de os dois saírem na mão.
Considero Neymar um craque. Disparado, o maior que surgiu por aqui depois de Ronaldinho Gaúcho, Kaká e Adriano. E Neymar tem uma vantagem: está há uma década jogando em altíssimo nível ininterruptamente. Ronaldinho fez duas das melhores temporadas que eu já vi alguém jogar, mas não ficou 10 anos no nível máximo. Kaká foi melhor do mundo, mas não teve a mesma longevidade. Nem Adriano.
Portanto, meu problema com Neymar nunca será em relação à bola. Mas sim a um “nuvem de bananismo” que paira permanentemente sobre a cabeça, alma e coração do eterno Menino Ney.
Outro dia assisti a um podcast em que estavam Neymar, Ronaldo e Gaulês. Aguentei 10 minutos. Risinhos pretensamente naturais, frases cortadas pela tentativa de buscar a aprovação dos interlocutores, intimidade forçada… Os três pareciam tão à vontade como eu em um jantar de gala, daqueles em que é preciso consultar o Google por baixo da mesa para saber o que fazer com cada talher.
O documentário do Neymar vai na mesma levada. O cara abre a história da carreira dele com uma resposta a uma frase de 10 anos atrás do René Simões. Imagine você ser um dos melhores do mundo no que faz a ponto de merecer um documentário na Netflix. Aí você acha “de boas” ancorar o fio narrativo no René Simões.
A resposta a Donnarumma no WhatsApp é natural como um sorvete blue ice. A mensagem é tão good vibes que parece nascida de um gerador de lero-lero construído por uma junta de coaches, revisada por três assessores de imprensa, aprovada por um escritório de advocacia, apagada e reescrita pelo Neymar Pai antes de ser enviada.
Donnarumma deve ter dormido de tanto tempo que ficou aparecendo Neymar está digitando… na tela do seu celular.
Se tivesse entrado em uma discussão de vestiário com Donnarumma a ponto de quase sair na mão, Neymar teria mostrado que tem sangue fervente correndo pelas veias.
Que não aguenta passivamente estar há cinco anos no time mais caro do mundo ficando cada vez mais distante dos seus objetivos: vencer uma Champions League como protagonista e ser eleito o melhor do mundo.
Que não é mais um craque oco a ponto de precisar ser teleguiado por alguém (no caso, seu pai).
Que não precisa rolar na grama como se tivesse sido vítima de tentativa de homicídio toda vez que sofre uma falta.
Neymar tem um talento extraordinário preso em uma embalagem totalmente artificial. Sair na mão com Donnarumma seria um sinal de quem ainda há alguma naturalidade dentro deste enlatado do futebol globalizado que é o Menino Ney. Pena que era fake.