Você viu os caras tomando caneta do Homem-Aranha com barriga de cadela?
30 segundos de futebol estado puro, muitas horas de mimimi e 90 minutos de puro êxtase - com Manga
O craque André Pugliesi, eterno Jornalista de Merda, inundou a timeline com 30 segundos de futebol em estado puro.
O vídeo está logo abaixo ou aqui no link, mas vou descrevê-lo mesmo assim. No Calçadão da Rua XV, em Curitiba, um sujeito vestido de Homem-Aranha distribui canetas em todo mundo que tenta tirar a bola de futebol dos seus pés.

A situação é naturalmente humilhante. Você está lá, cuidando da vida, então um sujeito com uma bola de futebol te chama para brincar e, “pimba!”, bola no meio das pernas.
É no meio da rua. É no meio da rua e o sujeito está vestido de Homem-Aranha. É no meio da rua, o sujeito está vestido de Homem-Aranha e tem uma barriga de cadela, no melhor estilo Ronaldo Fenômeno, Douglas ou Walter.
Aliás, vocês viram o Walter? Não viram? Pois vejam…
Toda a marotice boleira do Homem-Aranha pançudo é filmada, com o claro objetivo de colocar tudo na rede social. Aí, o caneteado se sente no direito de dar uns cacetes no Ivo Holanda do futebol freestyle. No movimento do desarme, deixar aquela perna sobrando, tudo bem - “Fui na bola, professor!”. Mas largar tudo, quase perder até as calças, para dar uns sopapos no caneteador é patético. Compreensível, mas patético.
Só sei que me diverti vendo o vídeo, embora ele rapidamente tenha sido engolfado por outras discussões no cativeiro das redes sociais. Vamos a elas…
Deus x Buda
A ala progressista boleira da timeline estava ouriçada por causa de reportagem da BBC, assinada pelo brilhante Marcus Alves, sobre como o movimento evangélico conquistou, ao longo dos anos, espaço no futebol brasileiro.
O pisão no calo da turma foi uma frase da Taffarel destacada no livro “Quem venceu o tetra?” e resgatada pela reportagem. “Quando Baggio pegou a bola, não tive dúvidas de que venceríamos. Qualquer um que acredite em Deus nunca perderá para alguém que acredita em Buda.”
A frase do Taffarel (lá de 1994, não da semana passada, mas resgatada na reportagem dentro de um contexto) é bizarra. As reações a ela, mais ainda.
A fé, o acreditar em Deus e dar graças são parte da cultura do futebol brasileiro, fortemente religiosa. Como, aliás, é da cultura de boa parte do brasileiro médio. Quem prefere simplesmente repelir, ridicularizar ou generalizar esse traço, perde uma chance ótima de entender o futebol brasileiro, o Brasil e o brasileiro. Deixa vago um espaço que os Milton Ribeiro da vida acabam malandramente ocupando, infiltrados de contrabando entre gente decente.
Leifertismo, trajanismo ou pevecismo
Outra chacoalhada no limoeiro foi a volta efetiva ao futebol do Tiago Leifert, com o canal 3 na área. Leifert já vinha ensaiando um retorno ao comentar jogos do Paulistão no YouTube. Agora, vai dividir o canal com o Rica Perrone e o Fui Clear (de quem eu nunca tinha ouvido falar).
Os três são abertamente defensores da ideia do futebol como entretenimento. Ou do futebol sem “mi-mi-mi”, como se fala muito por aí. Era a gênese do Globo Esporte revolucionado por Leifert e que deu muito certo em termos de audiência. Tão certo ao ponto de ter criado uma nova forma de fazer jornalismo esportivo no Brasil, jocosamente chamada de leifertização.
Quem popularizou o termo foi o Juca Kfouri, expoente do que vou chamar aqui de trajanismo. É o olhar do “não é só futebol”, do “tudo é política” (inclusive o futebol), do “jogador tem obrigação de posicionar politicamente” (mas só se for à esquerda, porque senão está contribuindo para “reforçar o clima terrível que se criou no país desde 2018”), é “a velha ESPN que o Mickey destruiu com um monte de Bate-Bola”.
Ainda há uma terceira linha, que vou chamar aqui de pevecismo, embora o próprio PVC esteja mais discreto desde que migrou da Fox para o Grupo Globo. É o pessoal da estatística, da análise tática exaustiva, do olhar científico para o futebol que, se não for devidamente canalizado, logo vira um cientificismo caricato (algo que, friso, não vejo o PVC fazer, mas sim muitos dos seus discípulos).
Aqui da minha cadeira de torcedor, gosto de ter as três opções, embora penda mais, no momento, para a galhofa. Já fui do pevecismo e do trajanismo. A vida me ensina que não é saudável querer entender cientificamente o Coritiba nem achar que todos os problemas do universo se resolverão no Alto da Glória - onde, em regra, é difícil resolver até problemas banais de um time de futebol.
O que acho realmente bizarro é gente (inclusive do meio) querer impor que apenas um estilo é correto e os outros são menos dignos ou chatos ou idiotizantes ou descolados da realidade ou o que quer que seja. Cada um que controle o seu ditadorzinho interior.
O futebol acabou, mas passa bem
Rescaldo do Grenal de ontem, mais uma queixa sobre a nova moda dos goleiros de desabar no chão por qualquer motivo para ganhar tempo. Escreveu o Sergio Xavier Filho, hiperbolicamente:
“Futebol brasileiro acabou. Primeiro goleiro do Inter faz cera pra companheiro trocar chuteira. Depois, um minuto depois, o do Grêmio pra esfriar o jogo. Vergonha profunda de tudo isso.”
Lembro que nos anos 80 os goleiros passavam mais de minuto trocando bola com os zagueiros. O zagueiro se aproximava, recebia a bola e recuava mansinha para o goleiro, que só agarrava quando um atacante adversário chegava perto. Agarrava, se jogava no chão e levantava para fazer de novo, quantas vezes julgasse necessário.
O futebol não acabou por causa disso. O que se fez foi mudar a regra, com a proibição, na década seguinte, ao goleiro de pegar com as mãos a bola recuada intencionalmente. Vai acontecer de novo, sem melindres.
Bateu, levou
Ainda no Grenal, jogadores do Grêmio reagiram e bateram no credenciado (!?) que os agrediu depois do jogo. Havia acontecido algo similar na invasão de campo de torcedores do Paraná enquanto o clube caía para a Segunda Divisão do Campeonato Paranaense. Alguns jogadores partiram para o revide. O atacante Tadeu deu uma voadora estilosa e outro jogador acertou um cruzado no queixo de um torcedor que desmontou no gramado.
Nos dois casos, os jogadores estão certos. Estão trabalhando, alguém invade o campo (ou o acesso aos vestiários) para agredi-los. Não dá para esperar que o boleiro ofereça um copo de Gatorade e uma fatia de melancia.
Vamos ao que importa
Comecei leve, falando das canetas do Homem-Aranha com barriga de cadela, e terminei reclamando de tudo e todos. É o que o futebol de timeline faz com a gente.
No fim, o que importa é o open bar de batida de Manga na Arena da Baixada. Li relatos de que foi fatal para muitos que estavam por lá, mesmo sem adição de leite. Deve ser exagero.
Melhor curtir as canetas do Homem-Aranha com barriga de cadela. Pelo menos o vídeo dele não tem perigo de deixar de me alegrar no domingo à tarde.